A casa que nos recebe, acolhe e protege após um dia normal das nossas vidas viu-se agora transformada em local de reclusão. Sentimo-nos presos ao nosso lar, o que nos traz sentimentos ambíguos e perturbadores. Em tantos momentos ansiamos ficar em casa, em família, usufruindo da companhia e da intimidade daqueles de quem mais gostamos! E agora que esta realidade nos é imposta, o prazer imaginado não é tão intenso. A nova rotina pesa-nos, o barulho (ou a sua ausência) incomoda-nos, o trabalho misturado com o lazer torna-se difícil de gerir. Não poder sair livremente e conviver como dantes, oprime-nos.
Toda esta gestão emocional torna-se ainda mais difícil por não haver uma data, um dia fixado para o regresso à normalidade. Se pudéssemos, hibernávamos (como alguns animais sabiamente fazem) e acordávamos quando tudo tivesse passado! Gostaríamos de “dormir sobre o assunto” e levantarmo-nos com a solução. Mas o “remédio” é apenas esperar sem desesperar…
Uma das boas práticas que podemos adoptar para nós e, fundamentalmente, com as nossas crianças é tentar manter hábitos de SONO saudáveis.
A aplicação do ditado popular “DEITAR CEDO E CEDO ERGUER…” pode ajudar muito à regulação do ritmo biológico das crianças. Dormir de noite em ambiente sereno e durante as horas necessárias é meio caminho para um dia tranquilo e bem disposto.
É importante impor às crianças um horário de deitar (adaptado à idade de cada uma). A ida para a cama pode ser acompanhada de um RITUAL – vestir o pijama, lavar os dentes, ouvir uma história, ficar “à espera que o sono venha” na companhia do “amigo” (objecto preferido) – pois isto ajudá-la-á a preparar-se psicologicamente para a situação. Deverá ser um momento COM TEMPO LIMITADO, isto é, não necessita de ser feito “à pressa” mas também não se deverá eternizar com pedidos – “só mais uma história”; “só mais um beijinho”; “esqueci-me de dizer uma coisa”… – negociações – “ainda não tenho sono”; “é só acabar este jogo”; “mais meia hora”… – birras ou “falsas partidas” – a criança, depois de estar na cama, chama ou levanta-se várias vezes alegando xixi, sede, indisposição, etc.
A cama dos pais não pode ser um bom refúgio tal como adormecer com a TV também não promove o descanso necessário. O quarto deve estar confortável e suficientemente escuro para permitir o repouso (o que não impede a existência de uma luz de presença, caso seja necessária para tranquilizar a criança).
A hora de acordar é tão importante como a de deitar. Deixar a criança dormir durante toda a manhã (ou fazer uma sesta demasiado longa) levá-la-á a desregular todo o seu biorritmo, interferindo não só com o sono mas também com as refeições, as rotinas de higiene, a disposição para a acção, a concentração e o humor.
É natural que muitas crianças, por terem, neste momento, um quotidiano mais pacato, sintam menos sono. A abolição da sesta pode ser uma solução. A organização de um momento diário de exercício físico, fazendo um “passeio higiénico” em ambiente exterior controlado ou, caso não seja viável, dentro de casa (seguido de um bom banho quente) ajudará certamente ao desgaste de energia e stress acumulado durante o dia, facilitando uma boa noite de sono.
Não esqueçamos o famoso dito do poeta romano Juvenal “MENTE SÃ EM CORPO SÃO” (Mens sana in corpore san) e tentemos pô-lo em prática nas nossas vidas e nas dos nossos filhos!
Maria João Faria (psicóloga do CPBESA)