O Tempo pergunta ao Tempo quanto Tempo o Tempo tem

abr 3, 2020

Aprendemos desde cedo que o tempo, sempre a avançar, é algo que se pode medir de forma exacta e rigorosa. O Homem foi inventando, ao longo da sua existência, múltiplas e cada vez mais sofisticadas maneiras de cronometrá-lo. Todos nós, mesmo sem darmos conta, vivemos presos a relógios, alarmes, despertadores.

“Como um fabricante de armadilhas desajeitado que acaba por ser prisioneiro das engrenagens que produz, também nós inventamos o tempo e nunca temos tempo. Os nossos relógios nunca dormem” (José Tolentino Mendonça).

Relógio

No entanto, há uma outra dimensão do tempo que não se vê num mostrador – o tempo SENTIDO, o tempo PSICOLÓGICO. Quando esperamos numa longa fila o tempo eterniza-se mas quando conversamos animadamente com amigos, o tempo evapora-se!

No momento actual das nossas vidas em que muitos de nós nos encontramos confinados a casa, a nossa percepção, organização e utilização do tempo alterou-se forçosamente. O número de horas que passamos com as nossas crianças aumentou muito. Somos pais e mães a tempo inteiro e eles filhos (e irmãos) a tempo inteiro. Gerir este tempo de convívio exclusivo implica novos desafios.

É talvez o momento ideal para apostarmos nas tarefas de AUTONOMIA, que, por definição exigem TEMPO. São aquisições que se fazem aos bocadinhos, com prática diária, esforço e persistência. Estando em casa o dia todo, as crianças têm esse tempo e “o tempo rende muito quando é bem aproveitado” (Goethe). Investamos as crianças de confiança e reforcemos a ideia de que é bom aprender a fazer as coisas sozinha, mesmo que demore e custe!

Enchamo-nos nós de paciência e refreemos a vontade de fazer por elas (para ajudar, porque não consegue, porque não vai ficar bem, porque não quer…). A persistência e resistência à frustração trabalham-se desde cedo, todos os dias e, de preferência, com actividades da vida diária.

Dependendo da idade de cada criança podemos incitá-la a fazer sozinha (ou com ajudas gradualmente menores, dos pais ou irmãos mais velhos):

  • DESPIR-SE e VESTIR-SE
  • DESCALÇAR-SE e CALÇAR-SE
  • TRATAR DA HIGIENE PESSOAL
  • FAZER O CONTROLE DOS ESFINCTERES (tirar a fralda)
  • ARRUMAR O SEU QUARTO
  • COLABORAR NAS ROTINAS DE CASA

Para cada um destes pontos há uma imensidão de tarefas implicadas. A criança deve ser convidada a fazer apenas o que está ao seu alcance, partindo da avaliação das suas competências a cada momento. A cada “degrau” superado sobe-se para o seguinte.

O desafio é grande mas certamente gratificante para todos!

Maria João Faria (psicóloga do CPBESA)